sábado, 28 de agosto de 2010

2 x Nuno Ramos

Do novo livro de Nuno Ramos, O Mau Vidraceiro, ed. Globo:
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Frutas
Depois de falar longamente a meu respeito, perguntei, E você, o que você tem feito?, como se fosse impossível que pensasse mal de mim depois dessa pergunta cuidadosa. Nada, ele me disse, e, diante do meu silêncio, acrescentou, Tenho comido frutas.
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O deus leitor
Abram os jornais. Mergulhem nas notícias Afoguem-se com o vendaval no Oriente. Explodam com o homem-bomba no deserto do Sinai. Lugares, nomes de lugares. Gente, nome de gente. Notícias, cheiro de tinta. Tudo é tão confortável. Mas quem poderia compreender o que está escrito a ponto de padecer fisicamente, ferindo seu corpo e sangrando com aquilo que lê, durante o ato mesmo de ler? Um novo deus leitor, pregado na cruz do que está escrito. Este mostraria quanto vale uma palavra.
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Em O Mau Vidraceiro todas as curtas narrativas e palavras, mesmo que densas, fluem leves, rápidas, soltas e livres. Imaginação livre.
O artista plástico Nuno Ramos elabora obras literalmente pesadas; sua escrita voa. Técnica mista.
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