segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Do amor tenho os furores!


*
Na ausência de Teseu, o esposo, Fedra, a esposa, declara seu amor a Hipólito, filho de uma união precedente do próprio marido. Hipólito, em respeito ao pai, não quer nada com a madastra, que por sua vez, com medo de que o menino revele ao pai sua paixão criminosa, inverte os fatos e conta a Teseu o oposto: que Hipólito quis cortejá-la.
Neste quadro de Pierre Narcisse Guerin, se não me engano, vemos Hipólito (de pé), Teseu furioso e Fedra fingindo que o problema não é com ela - mas ela terá, sim, muitos problemas, posto que trata-se literalmente de uma tragédia grega: Hipólito e Fedra morrerão. Ele, arrastado por cavalos, um pedido do pai ao Deus Posseidon e ela, angustiada pela culpa, enforca-se.
*
Adoro o quadro, a figura e o figurino de Hipólito, os pés de Teseu e seu rosto em fúria, a cara do cachorro olhando Hipólito, a culpa e o medo de Fedra - enfim, tudo está em cena, até o capacete de Teseu pousado ao seu lado, indicando que ele acabara de chegar da longa viagem - longa o suficiente para a mulher se apaixonar pelo enteado.
*
Na versão de Racine para a tragédia - cito o trecho onde Fedra revela seu amor:
"ENONE
Amais vós?
FEDRA
Do amor tenho os furores.
ENONE
Quem?
FEDRA
Vais ouvir o cúmulo de horrores. Amo...
Faz-me tremer o fatal nome.
Amo...
ENONEA
quem?
FEDRA
Tu conheces esse filho
da amazona, por mim tão perseguido?
ENONEÉ
Hipólito? oh céus!"
*
Oh céus!
*