sábado, 12 de setembro de 2009

Morangos proibidos

“Mando-lhe estas frutinhas para o almoço, se chegarem a tempo; e, por ordem do Cristiano, fica intimado a vir jantar conosco, hoje, sem falta. Sua verdadeira amiga

SOFIA.”

— Que frutas são? perguntou Rubião fechando a carta.

— Morangos.

— Chegaram tarde. Morangos? repetiu ele sem saber o que dizia.

— Não é preciso corar, meu caro amigo, disse-lhe rindo o Freitas, logo que o criado saiu. Estas coisas acontecem a quem ama...

— A quem ama? repetiu Rubião corando deveras.
(...)
"Rubião (...) ainda uma vez leu o bilhete de Sofia. Cada palavra dessa página inesperada era um mistério; a assinatura uma capitulação. Sofia apenas; nenhum outro nome da família ou do casal. Verdadeira amiga era evidentemente uma metáfora. Quanto às primeiras palavras: Mando-lhe estas frutinhas para o almoço respiravam a candidez de uma alma boa e generosa. Rubião viu, sentiu, palpou tudo pela única força do instinto e deu por si beijando o papel, — digo mal, beijando o nome, o nome dado na pia de batismo, repetido pela mãe, entregue ao marido como parte da escritura moral do casamento, e agora roubado a todas essas origens e posses para lhe ser mandado a ele, no fim duma folha de papel... Sofia! Sofia! Sofia!"

As "frutinhas" em Quincas Borba são os famosos "morangos adúlteros".

E em Tess, Roman Polanski, 1979, o morango também faz as vezes da maçã proíbida:

primeiro ela (Tess, Natasha Kinski) recusa a fruta...

...depois aceita.