sexta-feira, 31 de julho de 2009

"Parece pintura!"

L'Innocente de Visconti

Muitas vezes quando queremos elogiar a beleza de uma cena na vida real dizemos: “parece uma pintura!”. A cena de, por exemplo, Visconti parece muitas vezes saída de uma pintura (ou vice-versa). Esse redemoinho de códigos é um dos méritos dos figurinos de filmes como Gattopardo. O mago figurinista Piero Tosi que acompanhou Visconti de Belíssima até O Inocente é um dos responsáveis pelo caráter de elegância e primor atribuído ao selo Visconti de qualidade.

Mas os figurinos de Visconti não foram feitos para enfeitar: as listras “nave” do menino Tadzio, provocação à la Querelle ou Gaultier avant la lettre, mostram que o figurino assim como a luz e a música são letras fundamentais no alfabeto do cinema – eles inventam significados.
O figurino de Tosi/Visconti inventa “uma memória”.

Morte em Veneza

Muitos anos atrás numa livraria em Torino encontrei o livro “Piero Tosi Costumi i Scenografie” (Ed.Leonardo Arte). Virou minha Bíblia. Tudo nele é moderno e clássico ao mesmo tempo. Tudo é pintura!

Este (incrível) livro encontrei sem buscá-lo (ele que me achou). Prefiro que um livro me ache que o contrário. Seja na Amazon ou numa esquina do mundo. E Visconti me achou e nunca mais nos largamos.

Fui na Cobal


Lama & Luxo



“Temos o mesmo hambúrguer e a mesma experiência em todos os McDonald’s. O mesmo ocorre com a Louis Vuitton. Ajudamos a criar isso na Gucci. Na época era a coisa certa a fazer. Se não tivéssemos feito, outra pessoa faria. O mundo estava se tornando uma cultura global. Mas não estou mais interessado nisso. Estou na direção oposta. Todos esses anúncios de bolsas me deixam enjoado. É tão conhecido. E é besteira achar que os clientes não vão se desligar, que não estão cansados disso tudo quanto nós. Acredito que as pequenas empresas são as grandes. Há lições que podemos aprender com o luxo pequeno, antigo.” Depois dessa declaração para o livro DeLuxe – Como O Luxo Perdeu o Brilho de Dana Thomas, Tom Ford abriu lojas de "luxo" (luxo pequeno? antigo?) pelo mundo.

A arte (de rua?) é do francês Zevs.

The Jane, NY



quinta-feira, 30 de julho de 2009

Erika Verzutti, Bicho de 7 cabeças, 2007

As cores, as fomas, as ideias, as linhas, os elementos, os planos, as festas. Verzutti é um passeio por prateleiras imaginárias, rádios AM, granjas, aquários, corpos, salivas e bobagens.
A vida cotidiana revista com olhos espertos, amorosos e também irônicos.
Tive a alegria ( e a sorte) de conhecer Erika Verzutti.







Von Gloeden & Krasilsic & Frajado + 4 Frases

Sicília, Von Gloeden, 1898 (aprox.) Krasilcic, NY, 2009



1.
“Agora se pode fotografar tudo” Robert Frank

2.
“Fotografo o que não desejo pintar e pinto que não posso fotografar.” Man Ray

3.
“Não é por acaso que um fotógrafo se torna um fotógrafo, assim como o domador de leões se torna um domador de leões.” Dorothea Lange

4.
“Fotografo para descobrir como algo ficará quando fotografado”. Garry Winogrand

Krasilcic, NY, 2009 - Mickey Me...

Abgar Renault (1) & Nan Goldin

"Quando me sumo na total ausencia / do curso opaco e ascetico do somno e não estou em mais nenhum lugar, / mil invisiveis cousas myteriosas talvez occorram sobre o chão, pelo ar, / nas salas, sob as mesas, nas estantes, / alpendres, pianos, geladeiras, rosas." (1951)

Ps: Ele escrevia assim mesmo. O grande poeta tinha lá a sua ortografia.
Ps: Escreveu:"Tirei a vida só para morrer."
E quando foi viver a verdadeira vida de imortal, Otto Lara Resende escreveu:
"Era um homem inteiro, isto é, um Poeta. Sei o que digo, mas não digo o que sei. Adeus."




quarta-feira, 29 de julho de 2009

Dois olhares

Pierre Gonnard (1963- )
Vermmer (1632-1675)

terça-feira, 28 de julho de 2009

Gustave Caillebote (1848-1894)



«L'art ne s'est occupé jusqu'à présent que des dieux, des héros et des saints ; il est temps qu'il s'occupe des simples mortels.»

Pierre-joseph Proudhon, Du principe de l'art et de sa signification sociale, 1865.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

MERCI Cunningham


O Rio de Claudel

Prossigo a (breve) série (mais que específica) falando de escritores franceses católicos que passaram pelo Brasil! ( E já que inventaram o tal do ano da França no Brasil, os nomes desses poetas deveriam ser mencionados e brilhar mais que os fogos de artifícios dos eventos efêmeros.)
As lembranças do Brasil, diz Paul Claudel, que serviu aqui como diplomata por volta de 1917, ajudaram-no a escrever a peça Le Soulier de Satin, talvez a mais longa separação amorosa da dramaturgia mundial: o casal protagonista apenas se entrevê e depois passam as mais de 11 horas da peça se procurando pelo mundo! O drama acontece em torno do globo na busca desse amor. A lembrança do Brasil teria temperado o drama épico de Claudel apesar da ação não fazer referência ao país.
Foi o Rio dos anos 10 do século passado que Claudel conheceu:



Assiti a versão do diretor Antoine Vitez para o Le Soulier de Satin e também o filme de Manoel de Oliveira. Na foto abaixo a cena de Dona Prouèze com o Anjo da Guarda na montagem de Vitez:
"Prouèze: O que você espera para me fazer morrer?
Anjo: Espero que tu consintas.
Prouèze: Eu consinto, consenti!
Anjo: Mas como podes consentir em me dar o que não te pertences!?
Prouèze: Minha alma não é mais minha?
Anjo: Você, na noite, não a entregou a Rodrigo?"

O amor de Prouèze e Rodriguo fica entre a distância e o impossivel.
Dessa impossibilidade surgem versos:

"Prouhèze: Ele pediu Deus a uma mulher e ela era capaz de lhe dar, pois não há nada no céu e na terra que o amor não seja capaz de dar!
Lua: Tais são as coisas que ela diz no seu delírio.
Agora só há paz, a hora é meia-noite,
ela fala e eu lhe beijo o coração!"
Nem católico sou – mas a fé tão amorosa de Claudel me comove como no poema A Virgem ao Meio-Dia:

Vejo a igreja aberta e entro. Mas não é para rezar, ó Mãe, que estou aqui dentro.
Não tenho nada a pedir, nada para te dar.
Venho somente, Mãe, para te olhar (...)
...Nada dizer, olhar simplesmente teu rosto,
e deixar o coração cantar a seu gosto.
Nada dizer, somente cantar, porque o coração está transbordando...
Porque és bela, porque és imaculada, a mulher na Graça enfim restituída, a criatura na sua hora primeira e em seu desabrochar final, como saiu das mãos de Deus na manhã de seu esplendor original.
Intacta inefavelmente porque és a Mãe de Jesus Cristo, que é a verdade em teus braços, e a única esperança e o único fruto.
Porque é meio-dia, porque estás aí, simplesmente porque és Maria,
simplesmente porque existes.
Paul Claudel "existe" em Ipanema. A Praça Paul Claudel é um canteiro cimentado onde talvez nem caibam todos os livros que escreveu. Fica no Jardim de Alá esquina com a Barão de Jaguaribe. ( Talvez a colocação das placas esteja errada e a continuação da praça devesse chamar-se também Paul Claudel no plano original).

As palavras de Claudel do começo do século passado ainda valem apesar das desastrosas intervenções humanas: “O Rio de Janeiro é a única cidade das que conheço que não conseguiu expulsar a natureza”. Amém.

Marinho



Convidei o (artista) Marinho para criar comigo o cenário do desfile do Espaço Fashion. Alugamos uma casa no Horto que se transformou na nossa casa-atelier por 10 dias. Ele pintou mais de 100 placas de compensado. Preto e madeira.
O cenário do desfile virou a campanha da marca com a Aline Weber.

sábado, 25 de julho de 2009

"Tudo é graça"

"Tudo é graça” é a última frase proferida pelo narrador do “Diário de um Pároco no Campo”, romance de George Bernanos. O padre, muito doente, morre em seguida.
Esta seria a (minha) definição da fé: saber dizer "Tudo é graça".
"Tudo é graça" repito-me (sem esquecer do dito popular: "nada é de graça"). Graça divina na literatura cristã ou graça mundana e cotidiana, porém não menos divina.

O autor francês George Bernanos morou no Brasil nos anos 40. Existe até um Museu Bernanos em Barbacena, MG:
Bernanos transformou o fervor religioso em palavras apaixonadas.
Uma graça maior que as religiões.
Quando tudo é graça, suportamos melhor a desgraça.
Tudo é graça, repito-me. Ou tento repetir.

O filme (lindo) de Robert Bresson baseado no romance de Bernanos fala da morte e da fé. O Padre sofria de um câncer: Já o filme O Padre e a Moça (baseado em Poema de Drummond) de Joaquim Pedro de Andrade fala de fé e desejo: E por falar em desejo:

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O bicho usava uma Nikon

“Vi ontem um bicho, na imundice do pátio, catando comida entre detritos. Quando encontrava alguma coisa, nem cheirava: engolia vorazmente. O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem”.
Tratando-se daquela exposição de fotos feita com o lixo de celebridades, os bichos são eles: os paparazzis! Os artistas são Bruno Mouron e Pascal Rostain num trabalho de 1996.
O lixo da foto é da casa de Madonna e o poema (um clássico, sempre atual) é do poeta-estrela da (minha) vida inteira: Manuel Bandeira.

Duas vezes


1. De Perto
2. De longe

Pata de Caranguejo


“Jacqueline Cascorro, a protagonista desta história, conheceu durante boa parte da vida as experiências conjugais de costume: brigas, arroubos, infidelidades, crises e reconciliações. Tudo mudou quando, ao quebrar uma pata de caranguejo e ouvir uma garrafa de chamapgne sendo aberta às suas costas, se deixou dominar por um pensamento que depois retornaria de modo intermitente, transformando-a, para sempre, numa mulher de idéias muito más.” Li esse livro em preto-branco vestindo os protagonistas como personagens de Antonioni revistos por Nelson Rodrigues. A cena da pata de caranguejo volta algumas vezes na narrativa e Jacqueline vai ficando realmente muito má. Se passa no México, mas poderia ser no subúrbio da Falecida ou na Itália urbana do Eclipse. “Tudo mudou quando ao quebrar uma pata de caranguejo...”. A descrição da ação, tão pouco psicológica, confere a cena um caráter fílmico. “Tudo mudou quando ao quebrar uma pata de caranguejo...”. Existem gestos cotidianos que podem nos fornecer alguns pensamentos fundamentais. Tudo começou quando ele mergulhou aquela madeleine naquela taça de chá ou quando a mãe demorou para dar-lhe boa-noite.
Grandes transformações podem começar entre sussurros e detalhes. O livro da pata de caranguejo chama-se Vida Conjugal de Sergio Pitol (Companhia das Letras). A foto é do filme no qual plantei minha leitura: O Eclipse.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cabides e Corvos

Passeando por Tóquio um cabide deve ter caído na cabeça de Hussein Chalayan. Ele olhou para cima e deve ter visto um desses "ninhos de cabides":

Pronto, veio-lhe a inspiração para seu ponto de venda na Dover Street Market de Londres. Repara no corvo pousado entre as roupas como que em fios elétricos:


Explicando: esse típico habitante das ruas de Tóquio (cada um tem o pombo que merece!) é perseguido duramente pela prefeitura local (são milhares). As aves deram agora para confeccionar seus ninhos com cabides, já que empenhada em impedir a procriação dos corvos, a prefeitura saiu destruindo os ninhos frágeis e naturais que os famosos corvos faziam. Os (inteligentes) "urubus" japoneses passaram a buscar então no lixo humano, cabides flexíveis e resistentes, ideais para o fabrico de ninhos! Aliás, informação muito muito útil: querendo fazer um ninho, use cabides!!



A lembrança mais precisa que tenho de Tóquio: ruas silenciosas e o corvejar histérico das aves negras, dizem violentíssimas. Não testemunhei ataques e voltei ileso: nenhum cabide caiu na minha cabeça!


O dia que Godard levou uma torta na cara...

O dia que Marcello morreu...

quarta-feira, 22 de julho de 2009


Assinei o Libê via net... às 19h00 recebo via mail (pdf) o jornal inteiro do dia seguinte!!!
Pensar que hoje, quarta, às 19h00, antes do Jornal Nacional eu já li o jornal francês de quinta!!
Que vertigem...
PS: nos anos 80 colecionava as capas "históricas" do Libération. Na foto o jornal no dia em que Simone de Beauvoir morreu.
PS: na capa de amanhã "Sondage et Copinage". Sarkozy envolvido em algum escandâlo de "ligações financeiras opacas". Petit monde.

Versão Machu Picchu do Morro da Catacumba

Ipanema era só felicidade...

Saudade de Apicius


(...)Apicius (Roberto Marinho de Azevedo) fazia o que queria com as palavras: temperava, adoçava, salgava no ritmo do seu humor. Sabia criar cenas de vaudeville ou conversas filosóficas diante de um ensopadinho. Inventava personagens fazendo dos restaurantes o palco para ironias finíssimas. Fala de um restaurante falando da vida: “É uma casa e, como todas elas, coisa muito confusa. Há mãe, filhos, geladeira, criados, falta de gelos e tumultos variados. Mas há uma comida de qualidade que poucas vezes tenho provado. E há uma gentileza de família, feita de ineficiência e calma...Aqui no Rio gostamos de ir a restaurantes vistosos, que nos façam nos sentir importantes. Ainda não aprendemos que o prazer brota da simplicidade e que o bom humor, o bom gosto e as boas maneiras são parentes que foram educados nos colégios da calma e da despretensão.” Acho que esse restaurante acabou mas as crônicas de Apicius estão em algumas coletâneas publicadas, entre elas “Confissões Íntimas” editado pela José Olympio Editora e um de seus livros de poesia chama-se “A Baleia” (Companhia das Letras) onde ele diz: “Daqui a pouco tudo acaba / A paixão e a cerveja. Secam as lágrimas /Pára o vento./ E voltam os dias.”